Questão de Justiça
Na noite de 20 de abril de 1997, quatro jovens da classe média alta de Brasilia, ateiam fogo ao corpo do indio Galdino de Jesus dos Santos que havia saido da Bahia para as comemorações do Dia do Indio em Brasilia. e que por ter se atrasado nas cerimônas foi proibido pela proprietaria de entrar na pensão onde havia se hospedado ao chegar ao local por volta das 21 horas daquele dia; Sem conhecer a cidade e sem ter para onde ir, procurou abrigo em um ponto de onibus nas proximidades, onde acabou sendo atacado. Galdino morreria no dia seguinte. Descobertos os culpados, e sendo estes denunciados pelo Ministério Público, de forma surpreendente a juíza Sandra de Santis Mello, desqualificou o crime de homicidio doloso triplamente qualificado para lesão corporal culposa alegando que os réus não tiveram a intenção de causar a morte de Galdino. A mãe de Galdino, Sra. Minervina dos Santos ao saber disso, sem entender a “justiça” do homem branco, disse consternada em uma entrevista para a antiga Tv Manchete que também queria um juiz para “tacar” fogo, pois só assim, ele entenderia a dor que ela estava sentindo.
Impactado por essa entrevista, Dema de Francisco, autor habituado a retratar em seus textos as contradições humanas e suas múltiplas facetas diante da vida, especialmente inspirados em casos reais, criou o texto de ” Questão de Justiça” onde uma mãe desesperada pela morte do único filho, sequestra o juiz do caso por discordar de sua sentença aos réus. Essa insana jornada levará ambos a um desfecho trágico. O texto denso e cortante expõe de forma dolorosa a situação de todos aqueles que à margem da vida, esperam , por vezes inutilmente, que a “Justiça” lhes socorra e lhes dê abrigo diante de situações que lhes afligem.
Em memória de Galdino e de sua mãe, Dona Minervina , “Questão de Justiça” é um continuo Clamor de todos nós para que fatos como aquele jamais voltem a repetirem.
Espetáculo Questão de Justiça contemplado no Edital Proac Lab 36/2020